- Qual foi o pior momento em sua opinião?
- Ha!!! O pior momento foi reconhecer que eu era dependente mesmo. Foi admitir que o crack estava me destruindo. O CRACK ainda não me destruiu, mas me afastou tudo o que eu tinha de bom em minha vida. Família, amigos, esposa, filho.
Essa foi uma das perguntas feitas numa reportagem onde a repórter abordava alguns pacientes nos centro de recuperação química, ou CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), como também são chamados.
A abordagem da mídia em relação ao CRACK é maciçamente voltada aos viciados da classe mais pobre, ou digamos: da classe menos favorecida da população. Há algumas abordagens dos viciados das classes médias e altas, embora sejam raras.
Essa opção tem algumas justificativas. Uma delas é que o usuário da classe média ou alta são menos acessíveis, querem e podem se preservar, ao contrário da população pobre, que não tem muita escolha.
O que eu fico me perguntando é: porquê um cidadão ou cidadã da classe média, ou média alta ou alta ou altíssima, (sei lá com queiram chamar os “narigudos de pé”), se propõem a “dar o primeiro pau”?
Eu falo isso porque, pela lógica, (se é que há uma) essa parte da população é mais bem orientada, mais bem acompanhada por seus pais (ou pelo menos deveriam ser), usufruem ou têm o privilégio de usufruir de atividades sociais que podem afastar a possibilidade das drogas.
Pois bem. Eu fui criado no subúrbio, dos dois aos dezoito anos de idade. Não sei em que classe social eu me encaixava naquela época, só sei que meus pais nunca deixaram faltar nada de essencial pra nós. Lembro-me muito bem que o “cheiro” da maconha entrava em nossa casa pelas janelas diariamente e era tão inevitável quanto o barulho do trem passando de quinze em quinze minutos. Isso quando não atrasava por conta de um maluco qualquer que se jogava na frente do trem, desgostoso da vida. Mas isso é outra história.
O que eu quero dizer é que nunca passou pela minha cabecinha de adolescente, um tanto rebelde inclusive, experimentar qualquer tipo de droga ilícita. Mesmo sendo influenciado ou acompanhado, como muitas vezes eu era, por amigos e colegas que usavam. Será que eu fui mais inteligente que os outros? Não, eu acho que fui mais bem orientado que os outros. Ou tive a oportunidade de nascer numa família que prezava muito por tais princípios.
Eu até gostava do cheiro da marijuana queimada. A mim não incomodava. Os “sacizeiros“ puxavam em paz, encostados no muro da minha casa, com direito até a uma “aguinha” gelada de vez em quando. E não era na cabeça não, eles pediam e agente dava, pra beber. Até pediam com educação. “o baseado dá uma sede da P... Véi”. Eu lembro que meu pai teve que chapiscar o muro inteiro de cimento pra evitar que os ditos encostassem. Mas todos viviam em harmonia. Claro que uma harmonia meio mórbida, mas pelo menos agente se entendia. Com exceção dos dias que eu voltava do “baba” e tinha que passar por entre quatro ou mais “sacizeiros”. Eu chagava em casa muito doido. Huhuuuu !!!! Era uma fumada passiva e intensiva.
Depois disso, já recebi várias propostas pra “dar um pau”. Mas, se eu não usei antes, depois de velho é que eu vou usar? A troco de que? Êpa, velho não, eu só tenho 29 hein!!!
Mas vamos voltar ao Crack, o famigerado. Sabemos que vários fatores de exclusão social podem levar um usuário da classe pobre a usar uma substância desse tipo. Mas e os que são incluídos socialmente? EDUCAÇÃO, ORIENTAÇÃO, RIGOR NA PUNIÇÃO FAMILIAR. Ou melhor, a falta de tudo isso. Com certeza, no meu caso e no caso de alguns dos meus amigos de infância e adolescência que não usaram drogas até hoje, o diferencial foi a presença desses três elementos em nossa criação.
Já presenciei gente dizendo que cheirou cocaína só por curiosidade. Gente de boa família, com caráter, etc.
– Há, numa festa alguns amigos tinham e cheiravam, eu fiquei curiosa para saber como era a sensação. Usei e não senti nada, na hora. Depois desmaiei e não vi mais nada. Acho que não aconteceu nada não.
Essa é boa, nada aconteceu enquanto ela estava acordada, talvez. Ou acordada inconsciente? Quem sabe o que pode ter acontecido?
Outro exemplo é de um cara que conheci no Sul da Bahia. Olha uma das frases dele:
- Rapaz, quando eu cheiro, fico bem melhor. Eu sei que essa P... vai me matar, mas fazer o que? Eu posso morrer de qualquer outra coisa mesmo. Né?
E eu disse: - É né?!?!
Pelo menos esse era mais consciente. Ou mais louco.
Eu disse acima que, em minha opinião, a falta de três fatores leva alguém a experimentar a droga da droga. Mas não disse que a presença de um é mais decisiva para levar alguém a dar essa primeira “pegada”. A FRAQUEZA MENTAL. Eu acho que uma pessoa de classe média ou média alta, hii.. deixa pra lá. Melhor, aqueles que têm de tudo o que precisam pra viver com dignidade, e fazem uso dessas porcarias. O que essas pessoas são? Fracas e um tanto estúpidas. Pois, ir de encontro a uma lógica de saúde física e mental onde tanto se bate no sentido de não dar a primeira experimentada - a primeira pegada - é realmente uma estupidez.
Ha, eu ia me esquecendo de outras coisas. A tal da rebeldia. Outra também: a curiosidade. Pois é, curiosidade não ta matando mais só os burros não. Agora mata gente estúpida também.
Drogas lícitas também são uma merda. Mas vamos combinar. Se for pra se viciar, vamos pelo menos pensar em nossa família, que é quem vai segurar a nossa onda, ou não né? Já parou pra pensar e se perguntar que, se você morre, fica entrevado numa cadeira de rodas, vai preso, ou fica internado num desses CAPS, outras pessoas vão sofrer além de você? Sem falar no custo financeiro de tudo isso. Seria interessante se pudéssemos fazer tudo o que quiséssemos sem afetar mais ninguém além de nós próprios. Mas não funciona assim.
Agora vem a epidemia do CRACK. Uma substância que é o cocô da cocaína, e que alguns dizem que é mais barato, por isso se alastrou muito rápido. Mais barato como, cara pálida? Se pra satisfazer um estúpido tem que ser fumado de cinco em cinco minutos?
Avalie:
Avalie:
Uma cheirada de coca, 50 reais. Ação/Efeito: 2 horas;
Uma pedrinha de crack fumada, 10 a 20 reais. Ação/Efeito: 2 minutos.
Esses valores não são oficias, mas é essa a proporção.
Fez as contas?
Deu pra perceber agora que o diabo e o inferno não existem em sua vida?
O que existe é o CRACK.
O que existe é o CRACK.
Você nunca se enxergou roubando, matando, se prostituindo e mentindo descaradamente? Pois comece a se acostumar com tudo isso, se você “deu o primeiro pau”.
Angelo Novaes
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